Sobre as demissões na Escola Estadual

25/02/2015 17:21

 

 

 

 

Queremos iniciar nos solidarizando com os servidores da Escola Estadual Professor Adalberto Oliveira, que além da desvalorização que sofrem constantemente, alguns foram destituídos dos seus cargos após anos de dedicação e trabalhos prestados a essa instituição. Não podemos garantir que o que vamos escrever aqui vai contribuir para mudar essa situação, mas certamente será uma forma de quebrar o silêncio sobre o caso, oferecer uma reflexão sobre essa questão, além de disponibilizar um espaço onde a população de cachoeirense possa discutir de forma ampla e com liberdade.

O que está acontecendo nesse momento não é inédito. No entanto, o que mais chame a atenção é que talvez seja a primeira vez que acontece a demissão de 17 servidores. Assim como na prefeitura, as vagas do estado em nossa cidade são amplamente utilizadas para fins eleitoreiros. Periodicamente pode haver demissões e admissões de pessoal na cidade. Disso depende, é claro, de em quem os servidores votaram e/ou declararam voto. Isso só demonstra que a palavra "democracia" na acepção que é amplamente utilizada na atualidade, não faz sentido algum em Cachoeira dos Índios. Soberania popular só pode existir se os cidadãos se sentirem livres para votarem nos candidatos de sua preferência, e não ao contrário, forem obrigados a "acompanhar" o prefeito, o vice-prefeito, o vereador, o deputado ou quem quer que seja, que se auto intitule representante do estado no município.

Ainda vivenciamos um regime de verdadeiros "currais eleitorais" onde as pessoas são rebanhadas e ferradas a fogo, tal qual uma junta de bois ou uma tropa de mulas. Ou se preferir, estamos em pleno século XXI, em pequenos "feudos" onde os eleitores são tratados como vassalos que devem cega obediência a um senhor. Pior que isso, frequentemente esses soberanos armam seus súditos para combaterem entre os castelos do Estado e do Município. Vale falar mal, humilhar, espionar, denunciar entre outros atos. Cachoeira é antes de tudo, uma oligarquia onde se distribuiu ao longo dos anos, cargos e serviços àqueles que foram considerados súditos, num jogo sádico e cruel, que nós eleitores, ainda hoje, contribuímos para perpetuar. 

Mas o governador não vem a essa cidade tão longe e esquecida pelo Estado, (e só lembrada em época de eleição), para punir os eleitores de Cássio Cunha Lima. Portanto, cabe às suas lideranças locais apontar quem sai, e quem entra no lugar. O que resta aos demitidos? Recorrer aos seus padrinhos políticos. Caso estes estejam atualmente nas graças do governador, podem ter chances de reaver seus empregos. Se não, a demissão pode ser definitiva.

Isso traz alguns pontos para refletirmos. Primeiro como ficou o início das aulas da Escola Professor Adalberto Oliveira? Sim, por que depois de tantas demissões certamente houve dificuldades para iniciar as atividades. Deve ter comprometido todo o planejamento, prejudicado os professores, a escola e principalmente, os alunos que nesses casos são fortemente atingidos. Depois, independente da forma como foram contratados e dos candidatos em que votaram, os servidores são profissionais que estão lá há vários anos (alguns com mais de 20), prestando serviços, estabelecendo relações com colegas e alunos, se dedicando ao trabalho da escola, fazendo funcionar aquele lugar, dando sua vida e seu sangue pela educação das crianças e jovens dessa cidade. E sendo pouco reconhecidos por isso. Parece cruel a ideia que a qualquer hora possam ser despedidos. E sem direitos.

Certamente os políticos de Cachoeira dirão que as nossas escolas são de boa qualidade. Mas somente para os filhos dos agricultores, dos pedreiros, carpinteiros, motoristas e de outros professores. Os filhos da elite política dessa cidade, além de bem nutridos frequentam as escolas particulares mais caras de Cajazeiras. Portanto, as demissões não aconteceram por que há preocupação com assuntos como a qualidade das aulas, o conteúdo do currículo, a carga horária ou a remuneração dos profissionais da educação. Mas, unicamente pelo interesse nas vagas, que são reles mercadorias, mera moeda de troca eleitoreira, parte de um jogo infame e cruel, que por anos vem sendo praticado por aqui. Isso nos envergonha ao provar que o povo mais humilde é sempre o mais escravizado.

Ser professor não é fácil. Se for para a escola privada, a exploração, o controle e o sobrecarregamento de atividades é a realidade a ser enfrentada. Se optar pelo serviço público, é obrigado a ir às ruas para exigir que a prefeitura lhes pague o piso salarial, ou no caso do estado, resta apenas rezar para não ser demitido de uma hora para outra por causa do capricho dos que se dizem representantes do governador. E aí vale o que o Eu Amo Cachoeira vem cobrando há dois anos: concurso, concurso, concurso. É o único mecanismo para acabar com a prática de chantagem. Mas, também é necessário que o processo seletivo seja idôneo. O que sabemos não acontece em Cachoeira, ao menos se tomarmos como exemplo, a última seleção da prefeitura. Aliás, nem as últimas eleições para a câmara do município estão acima de suspeita, (se é que nos entendem).

O governador Ricardo Coutinho foi bem votado nas últimas eleições, apesar de Cássio ter recebido apoio de Bodin e Guia da Farmácia (que até aquele momento era oposição). Mas também vale lembrar que muita gente que votou em Cássio, o fez justamente para preservar seu emprego, e ironicamente foi punida por isso. Essas pessoas se basearam no resultado do primeiro turno, acreditaram que Ricardo perderia, e para garantir, votaram em Cássio. Agora o vice-prefeito Allan Seixas faz oposição ao prefeito, ou seja, na prática perdeu o usufruto das benesses da prefeitura, e  na qualidade de aliado do governador, recorreu aos cargos estaduais em Cachoeira dos Índios, para demonstrar poder, punindo os "traidores" e encaixando partidários seus no lugar. 

Ora, a oposição precisa ser inteligente e saber captar os anseios do povo e as necessidades comuns. Tem que ser sensível aos apelos da sociedade, ouvir a voz das ruas. Não pode chegar assim, pisando o povo de qual busca apoio. Tem que se lembrar que ainda não está no poder. E, caso vença as próximas eleições, não pode querer repetir os erros cometidos pelos que governam essa cidade nos últimos 50 anos. Portanto, se a oposição não tem projetos, (e vem sinalizando isso) e o feito mais notável que pretende realizar é o "gerenciamento" das vagas do estado na cidade, então ela não se distancia muito da situação, e, portanto perde a sua razão de existir.