Prefeito de Cachoeira impõe censura à leitora de blog

12/10/2013 12:05

Para entender a lógica do poder nas pequenas cidades dos rincões brasileiros, temos antes que levar em considerações duas questões importantes. Em primeiro lugar, remeter à formação histórica do Brasil, e em seguida, compreender os resquícios da nossa história recente.

O nordeste brasileiro teve sua formação cultural, econômica, politica e social e baseada no latifúndio, no escravismo, no patriarcalismo e no clientelismo. Cada vasta região era dominada por um coronel de gado ou de engenho que tinha poder de vida ou morte dentro dos limites de suas extensas propriedade.  Poder esse, que lhe fora hereditariamente conferido e que ninguém ousava contestar. Após a proclamação da república e a instituição das eleições, a manutenção do domínio sobre a população, deu-se através do chamado voto de cabresto. Nesse contexto, Cachoeira dos Índios é um pequeno feudo sob o domínio de um mesmo grupo político que há meio século se perpetua no poder.

Quase 30 anos já se passaram desde que a ditadura militar foi derrubada no Brasil. Não obstante, algumas práticas que foram legitimadas durante esse regime ainda continuam sendo utilizadas. Os exemplos mais correntes são a censura, a chantagem psicológica, a repressão e em casos mais graves, a tortura.

Ontem o secretário de comunicação de Cachoeira dos Índios, o ex-vereador de oposição, Wanderley Marques informou através do seu blog O Guarani, a decisão do prefeito, de processar uma leitora do Eu Amo Cachoeira, por causa de um comentário postado no perfil do blog no facebook. Lamentamos profundamente a atitude reacionária e conservadora tomada pelo prefeito e seus assessores.

Esta censura não é imposta à leitora em questão, mas a toda a população de Cachoeira dos Índios, sem exceção. Querem puni-la para que sirva de exemplo.  Não se admite que as pessoas desta cidade tenham autonomia de pensamento, ou venham a discordar da vontade do prefeito. O poder para Bodin precisa ser absoluto. Por isso, reina sozinho, sobre a prefeitura, a câmara de vereadores, as associações comunitárias, o conselho tutelar, o conselho municipal de desenvolvimento rural sustentável, a rádio comunitária, e enfim, todas as instituições existentes em Cachoeira dos Índios. Não contente, deseja agora estender a sua influência sobre as redes sociais, sites e blogs, controlando, censurando, tolhendo a livre opinião dos leitores. Cachoeira é uma pseudodemocracia.

Acostumado a uma população inerte, o prefeito e sua equipe vêm a muito se sentindo incomodados diante da postura inconformada da leitora perante a situação de descaso para com a saúde no município, de modo que há muito, esperavam apenas uma chance para processá-la.

Para o cidadão de Cachoeira dos Índios o que pode ser considerado mais grave? Um desabafo feito em uma rede social ou uma cidade sem médico, sem oposição, com um inexplicável aumento de diárias (câmara e prefeitura), uma ampliação absurda de 125% de cargos comissionados , contratação de obras sem licitação, excesso de locação de veículos, entre outras coisas que outros sites e blogs têm amplamente divulgado?

 

 Terra em Transe de Glauber Rocha (1967)

Família indo a missa, litogravura de Debret (1837)