10 argumentos equivocados no debate em Cachoeira

15/05/2015 19:49

 

Recentemente a sociedade de Cachoeira dos Índios tem debatido temas de interesse social. A discussão pública da política e da gestão da nossa cidade, nas redes sociais, na rua, nos bares, nos lares, não é lavagem de roupa suja, é interesse pelo bem público, é o exercício cidadania. É justa e muito bem vinda. Recolhemos aqui alguns argumentos que consideramos equivocados e achamos pertinente comentá-los no nosso blog.

 

1 - Política, religião e futebol não se discute

Discute sim. Não há nada que não seja possível se discutir no mundo. O que há, no entanto, são pessoas que talvez não estejam preparadas para a discussão. Pessoas que se utilizam da paixão e da violência para defender seu ponto de vista. Pessoas que não estão dispostas a abandonarem seus conceitos sobre determinados assuntos, ainda que o argumento do outro seja mais elaborado, profundo e inteligente. Pessoas que partem para o embate sem antes terem se informado o suficiente sobre o assunto em debate. Pessoas que não conseguem manter um mínimo de civilidade em uma conversa, virtual, ou pessoal e partem para a agressão, para o xingamento, para o uso de termos chulos, de baixo calão. Pessoas que não conseguem manter a conversa à altura do assunto discutido e na falta de argumentos perdem a postura e partem para a vida pessoal do outro, caracterizando uma falta de respeito pela pessoa, ao apelarem para temas que não fazem parte da discussão, mas, só dizem respeito à esfera pessoal. Então, o sucesso de uma conversa não depende necessariamente do assunto em questão, mas obviamente de quem debate.

 

2 - Critica é fácil, difícil é realizar

Criticar pode parecer fácil, e em alguns casos pode até que seja fácil. Se for uma crítica rasa, sem razão nem argumentos. Mas uma crítica séria, sistemática e baseada em fatos é difícil de ser realizada. Como abordamos em outra postagem a tarefa de realizar, é difícil. Exige planejamento, engenharia, captação de recursos, correta aplicação e prestação de contas. É necessário dizer quanto o governo recebeu e quanto foi investido em determinada obra. Não cabe ao povo, realizar, pois não somos gestores. O papel do povo é votar e cobrar a correta aplicação dos recursos que lhes pertencem. A frase “falar é fácil, realizar é difícil” não cabe no contexto, pois não se pode comparar sujeitos com funções tão distintas. É aplicar dois pesos e duas medidas.

 

3 - O povo vende o voto

Um dos pontos mais abordados nas redes sociais em nossa cidade é a venda de votos. Mas como sempre as pessoas sempre falam da "venda" e quase nunca em "compra" de votos. É uma forma de culpar o eleitor e isentar o candidato. Ora, não é possível haver vendedor, se não houver comprador. Pelo que se sabe não são os eleitores que procuram os candidatos, mas estes, que em visita, fazendo "corpo a corpo" vão atrás dos eleitores em suas residências. Sem planos de governo, projetos, ou relevantes serviços prestados, resta a esses candidatos comprarem com dinheiro, a consciência e a confiança do cidadão. O democrático direito ao livre exercício do voto passa a ser uma mera relação comercial de compra e venda. E então a única chance que o cidadão pobre dessa cidade tem de intervir na realidade vai pelo ralo. Mais e aí, a culpa é do povo? Jamais. Se alguém que deve se envergonhar dessa situação, que seja o prefeito e os vereadores de Cachoeira dos Índios. Se há algo de que o povo de Cachoeira dos Índios não precisa é de remorso. Esperamos que os eleitores continuem a receber todo o dinheiro que lhes for oferecido e ainda peçam mais. Quem recebeu 100 reais na última eleição, que na próxima peça 200. Quem recebeu 500 que agora exija 1000, e assim por diante. Afinal, quem rejeita dinheiro, ou é besta, ou louco. No entanto, na hora de votar, pensem se realmente devem dar o seu voto a um candidato que tem a pretensão, de achar que pode lhe fazer de leso, comprando a sua consciência. Pois, se esse cidadão nem ao menos chegou ao poder e já está lhe subornando, transformando o seu voto numa simples mercadoria. Você acha que esse candidato merece a sua confiança? Merece ganhar o seu voto? É esse o caráter da pessoa que merece ter acesso ao dinheiro do seu município, por quatro anos? Lembrem-se de que quem organiza as eleições não é os candidatos e seus respectivos partidos, mas a Justiça Eleitoral, uma instituição idônea, confiável, conhecida e elogiada em diversos países. Portanto, não há a menor chance de algum candidato descobrir em quem o eleitor "X" votou. No momento da votação é apenas o eleitor, a urna e sua consciência. Portanto, amigos, não há motivo para temer represálias, nem muito menos para sentir remorsos, afinal, candidato corrupto que quer lhe comprar, definitivamente não merece seu respeito. Agindo dessa forma esses candidatos demonstram que não tem caráter nem se preocupam com a população e dão uma prévia de como será o seu estilo de governo. Ao negociar seu voto, dirão que estão lhe ajudando, mas esse papo de "ajuda" não cola, afinal não é tarefa da prefeitura ou da câmara, ajudar. Ajudar é para os amigos, conhecidos ou até desconhecidos. Se encontramos na rua, uma pessoa que nunca vimos antes, com dificuldades, não custa nada ajudá-la como for possível, afinal quem ajuda tem desprendimento, fica feliz em contribuir, para que o outro se sinta feliz, sem esperar nada em troca. Mas, se um candidato passa na sua casa, a cada quatro anos, lhe oferece dinheiro em troca do seu voto, ele não está lhe ajudando. Está lhe atrapalhando, ao tirar a única chance que você tem de melhorar, não apenas a sua vida, mas de todas pessoas do município. O papel do prefeito e dos vereadores não é "ajudar" as pessoas, mas garantir que as políticas públicas de educação, saúde, habitação, transportes, entre outras sejam executadas com responsabilidade e equidade.

 

4 - Ao invés de criticar, vamos rezar pelo nosso prefeito

Que cada um fique a vontade para rezar pelo prefeito, pelos vereadores, secretários e por quem mais quiser. Absolutamente nada contra a prática da oração conforme a profissão de fé de cada um. O que não recomendamos é que a crítica, esse componente tão novo na política de Cachoeira dos Índios, seja substituída pela reza. Há mais de 50 anos que as pessoas não ousam questionar, opinar, manifestar pensamento contrário a quem se mantém no poder nessa cidade. E agora que começaram a pensar sobre a exploração que o povo sofre todos os dias, agora que começa o exercício livre da cidadania, alguém vem querendo calar e amordaçar a população usando um argumento de conformismo e alienação e humilhação? Uma ideia assim só pode ser defendida por quem é analfabeto político ou fanático religioso. Ou as duas coisas ao mesmo tempo. Mas do que nunca as pessoas devem acompanhar cada passo do executivo e legislativo e se manifestar diante das injustiças. Só o próprio povo é capaz de se libertar dessa escravidão econômica e ideológica em que se encontra. 

 

5 - A casa do prefeito está aberta o dia todo

O prefeito deve atender no seu escritório na prefeitura. É bem verdade que nos discursos de cunho demagogo e populistas, proferidos em Cachoeira dos Índios seja prática corriqueira destacar que a casa do prefeito está sempre de portas abertas, ou que muitas decisões que afetam diretamente a vida do cachoeirense, sejam tomadas na mesa da cozinha do prefeito.  Mas acreditem, essas práticas, definitivamente, não são boas para a democracia. A casa do prefeito é como a casa de qualquer outra pessoa do município. É um local de privacidade e descanso. Depois de um dia inteiro de trabalho, tudo o que o prefeito quer é voltar para sua casa e ficar com sua família, para descansar e se preparar para a jornada do dia seguinte. Se você é daqueles que ama o prefeito e gosta de fazer visita às cinco da manhã, achando que está abalando no apoio, se toque. O prefeito não é o superman, é uma pessoa comum que precisa de momentos com a família, para fazer coisas comuns e necessárias como conversar com os filhos e com a esposa, ajudar na lição de casa da escola da filha, passear com o cachorro, etc. Ele precisa de momentos com a família e os eleitores, ainda que sejam muito fãs, precisam dar tempo para que ele, assim como qualquer pessoa, desfrute desses momentos de privacidade com a família. Sinceramente, você gostaria de acordar com uma pessoa (que você não convidou), batendo na sua porta? Pense bem.

 

6 - Se você tem algo para reclamar, procure o prefeito

Esse é um dos argumentos mais equivocados e vamos demonstrar porquê. Em primeiro lugar, a nossa democracia é representativa, ou seja, a sociedade elege algumas pessoas para que possam representar e defender os interesses comuns. Cabe exatamente à câmara dos vereadores esse papel de representar o povo, levando até o executivo as demandas da população. Fazer com que cada cidadão trate diretamente com o executivo, desfaz uma parte muito importante do papel do legislativo. Em segundo lugar, esse atendimento individual não funciona por ser muito pouco prático. Um ano tem 365 dias, contando domingos e feriados. Se o prefeito atendesse um cidadão por dia, no fim de um governo de quatro anos, teria recebido 1.460 pessoas. Temos uma população de mais de 10 mil pessoas. Estamos falando de receber pessoas, não de atender suas reivindicações. Muitos pedidos se repetiriam. Muitos pediriam coisas para si. Poucos falariam em nome do povo. Haveria uma repetição de demandas. Terceiro e último, incentivar pessoas a procurarem o prefeito individualmente enfraquece os movimentos sociais. As pessoas precisam se unir em torno de interesses comuns, fundar associações de comunidades rurais, associação de moradores de bairros, sindicatos dos funcionários urbanos, sindicatos de trabalhadores rurais, conselhos, movimentos jovens, agremiações, etc. Negociando através dessas classes, os cidadãos têm mais força, mais poder para apresentar classes, negociar, barganhar. Incentivar o cidadão a ir sozinho levar sua pauta ao prefeito só serve para desmobilizar as pessoas e criar uma sensação de falsa presença e disponibilidade que não corresponde a realidade. Chegar sozinho no gabinete do prefeito sem hora marcada é quase certo de ser ignorado, afinal o prefeito tem uma agenda a cumprir, muitas reuniões agendadas, e muitas vezes nenhum interesse de resolver um problema particular que em muito pouco acrescenta a governabilidade.

 

7 - Cachoeira é muito pequena, para uma disputa interna. Briga nada constrói

“o conflito de ideias políticas, ao menos em Cachoeira dos Índios aponta para um afastamento pessoal e raivoso numa divisão negativa que reflete em ações contestáveis e que não deveriam está sendo levadas a cabo e trazendo frutos amargos para o povo”.

Esse ponto de vista defendido pelo secretário de comunicação de Cachoeira dos Índios não faz o menor sentido. À primeira vista parece até que o fragmento se refere ao comportamento de alunos do pré-escolar. Mas não. É o pensamento de um ex-vereador e atual secretário de comunicação a respeito do cenário político em Cachoeira dos Índios. Ora, a democracia pressupõe justamente a existência do conflito de ideias, ou seja, de pontos de vista divergentes. A Câmara de Vereadores é por excelência essa arena, democraticamente constituída, onde deve acontecer, na presença do povo, o saudável diálogo entre situação e oposição. Se o debate político tem resultado em “afastamento pessoal e raivoso”, “divisão negativa que reflete em ações contestáveis” ou “frutos amargos”, não é por que a cidade é pequena, mas por que as lideranças políticas locais têm sido imaturas, egoístas e despreparadas para conversar, ouvir seus pares e o povo que representa, ceder quando necessário, colocar o direito dos cidadãos acima do próprio interesse. É o exercício da representação que vem sendo, ao longo de meio século, mal realizado, apesar de muito bem remunerado. Esse discurso de suposta “união”, tão alardeado em Cachoeira dos Índios, não passa da imposição de um pensamento único, monopolista e unilateral, que tanto mal tem causado ao desenvolvimento da nossa cidade. O que conseguimos ver na verdade é a submissão da Câmara dos Vereadores e de outros órgãos e instituições da cidade ao domínio universal do prefeito. Essa tal “união” prega que nove vereadores pensam sempre da mesma forma, eliminando o conflito de ideias. Ora, isso é subestimar a própria inteligência e a do povo dessa cidade. O fato dessas disputas não estarem visíveis, não significa que não existam. Se esses representantes não se enfrentam na arena pública na frente do povo, defendendo os interesses dos seus representados, fazem isso nos bastidores, brigando por interesses outros. Não acreditamos em união ou consenso que não tenha origem no processo dialético. Fora disso, o que ocorre é a imposição do mais forte sobre o mais fraco, que invariavelmente é o povo.

 

8 - Os políticos da cidade não fazem nada para melhorar, só tentam destruir a imagem um do outro

Isso foi falado recentemente em virtude do rompimento do vice-prefeito de Cachoeira dos Índios por não querer tomar parte em um modelo de gestão considerado equivocado pelo mesmo. Discordar politicamente não implica necessariamente em “desunião”, “destruição da imagem um do outro”, “arenga” ou qualquer outro termo pejorativo que venham a utilizar. Mas simplesmente que na política, assim como na vida, os diversos atores sociais têm ponto de vista diferente sobre os assuntos em questão. As diferenças precisam ser respeitadas e apreciadas. A união deve vir de um processo dialético e não da imposição da vontade do mais forte, político-ideológico ou econômica. Certamente, no município há pessoas que pensam como o vice-prefeito ou como o prefeito, ou ainda, que raciocine de maneira diversa dos dois, por exemplo. No entanto, todas essas formas de pensamento devem ser respeitadas e devem dialogar entre si. A proposta da criação do blog Eu Amo Cachoeira, foi justamente trazer à tona a nossa maneira de pensar. Temos, ao longo de quase dois anos e meio, tentado expor nosso pensamento e estimulado o diálogo entre as pessoas. Fora do diálogo franco e honesto, na presença do povo, não há melhorias ou transformações. Só servidão.

 

9 - O Eu Amo Cachoeira deturpa os fatos

Se o Eu Amo Cachoeira deturpa algum fato, lamentamos, não é nossa intenção. Nunca nos proclamamos donos da verdade, muito menos da verdade dita absoluta. O que apresentamos são pontos de vista, comentários, opiniões sobre o cenário político da nossa cidade. Não raro, nossa forma de ver as coisas diverge da opinião defendida por aqueles que se mantêm no poder. Nossos textos às vezes são longos, densos e nossas análises procuram trazer elementos para embasar e aprofundar a discussão. No entanto, a única coisa que questionam é a identidade de quem escreve, como se isso desmerecesse todo o conjunto da obra. Ora, Quando um texto é deturpado, os questionadores devem comparar o sentido original das frases ao que foi atribuído, com a deturpação. Nunca vimos fazerem isso.

 

10 -  O Eu Amo Cachoeira cobra na internet, mas se acovarda nos eventos

O Eu Amo Cachoeira não é uma empresa de comunicação, é apenas um pasquim, um suporte de propagação de ideias, um veículo alternativo, uma iniciativa popular de oposição informal que tem agido no vácuo deixado pela Câmara de Vereadores. O Eu Amo Cachoeira é uma proposta de ação virtual. Na página inicial do nosso blog, postamos uma mensagem com a nossa proposta. Acreditamos que estamos cumprindo o nosso papel. Lembrando que nosso blog e páginas nas redes sociais são totalmente gratuitos. Não recebemos, não arrecadamos nem utilizamos recursos públicos ou privados. Toda a equipe trabalha se expressando de maneira livre e voluntária. Portanto, nem o povo nem os gestores deve esperar outro tipo de contato ou interação fora do ambiente virtual. A população, de forma livre, associada aos movimentos sociais e às instituições como associações, sindicatos, conselhos, devem e pode participar desses eventos e interferir, interpelar os gestores sobre os seus diretos. A população deve comparecer às sessões da Câmara dos Vereadores para acompanhar os trabalhos, projetos, discussões.