A oposição em Cachoeira dos Índios na era Bodin

05/05/2013 14:22

 

Vamos hoje falar sobre a oposição em Cachoeira dos Índios na última década, esse período pós-ascensão de Bodin ao cargo de prefeito, que vamos denominar de a “Era Bodin”. A partir desse momento, a oposição, ao invés de ser fortemente combatida, como era antes, passa a ser absorvida e neutralizada. Essa prática se esconde sob o discurso da “união pelo bem comum”. É um discurso muito bonito, principalmente para quem observa de fora. No entanto, se configura um perigo para a democracia, por não haver um embate de ideias. O que acontece de fato, é que o prefeito manda e todos obedecem, inclusive a Câmara dos Vereadores. Sem resistência, Bodin assume o papel de um ditador, impondo as suas vontades a uma população passiva.

Lembremos um pouco a trajetória do prefeito: vereador bem votado desde muito cedo, chegando a ocupar o posto de presidente da câmara, Bodin foi a pessoa mais beneficiada com as mortes dos dois grandes líderes políticos da cidade: Souza Bandeira e Chico de Lino. Mas, Bodin conviveu o bastante com eles para aprender toda a arte da política e ainda aprimorar as suas próprias técnicas. Como empresário Bodin ampliou consideravelmente o seu patrimônio. Um dos principais investimentos é no ramo da construção civil. Suas empresas têm vencido licitações em várias prefeituras, inclusive na de Cachoeira dos Índios, durante a sua própria gestão. O atual prefeito Bodin é um exímio estrategista político, sabe atenuar as expectativas do povo e fazer as mais variadas negociatas com os outros políticos, inclusive atraindo a oposição para o seu lado, tornando-os incrivelmente fiéis.  

 

Bosco Candido

Foi por mais de uma década o único adversário de Souza Bandeira. Disputou a campanha de 1988 como vice de Zuca Moreira e as de 1992, 1996 e 2000 consecutivamente, como candidato a prefeito. Nunca teve a menor chance diante do grupo dominante por mais de 40 no poder, chefiado por Souza Bandeira. Como ferrenho opositor, manteve acesa a chama da oposição. Quando Bodin assume a prefeitura após as mortes de Chico de Lino e Souza Bandeira, Bosco Candido assina a rendição, em troca do cargo de secretário de esportes. Com isso, perde toda a sua expressividade política.

 

Teta Francisco

Só teve coragem de concorrer à prefeitura de Cachoeira dos Índios em 2004 depois que Souza Bandeira e Chico de Lino faleceram. Não obteve sucesso no primeiro pleito, sendo derrotado pelo então prefeito Bodin que tentava a reeleição.  Não satisfeito com o resultado, recorre na justiça em três instancias, mas de nada adiantou. Surpreendentemente, quatro anos depois, quando não podia mais ser candidato, após dois mandatos consecutivos, Bodin apoia Teta para prefeito. Como explicar essa façanha? Coisas de Cachoeira dos Índios. Apesar da falta de “carisma” que sobra a Bodin, o governo de Teta apresentou muitas conquistas, principalmente na área do social, que teve mais cuidados do que em qualquer outro governo anterior.  Como exemplo, podemos citar a municipalização e reforma do hospital Josefa Bandeira de Souza, que Bodin fez questão de ignorar durante todas as suas gestões. No governo Teta, havia médico 24 horas. O salário família dos servidores municipais no valor de R$ 0,50 sempre foi uma vergonha durante todos os governos anteriores. Teta o eleva a R$ 50,00. Os servidores de Cachoeira não tinham terço de férias até a gestão de Teta. Uma análise mais fria da situação aponta para dois principais erros do governo Teta. O primeiro foi a falta de investimentos em marketing para melhorar a imagem junto a um público descontente e o segundo foi se render as vontades de Bodin, só percebendo quando já era tarde.

 

Marquinhos Campos

É filho do ex-vice-prefeito Toinho Batista. Na campanha eleitoral de 1988, Toinho era um promissor comerciante da cidade que aceitou ser candidato a vice na chapa de Souza Bandeira e investiu fortemente para elegê-lo.  O problema foi o retorno financeiro que nunca aconteceu, causando a ruína do comerciante, o que refletiu em uma profunda mágoa cultivada durante anos pela família. Marquinhos cresceu nesse contexto e durante muito tempo desferiu duras críticas ao sistema político chefiado por Souza Bandeira em Cachoeira dos Índios. Enquanto militante da oposição, Marquinhos desenvolveu importantes ações a exemplo do Cursinho Pré-Vestibular, em parceria com os professores da Escola Estadual, Jone Candido e Natalício. O cursinho foi responsável pelo ingresso de mais de 60 alunos na universidade. Outra ação desenvolvida por Marquinhos foi as várias edições do Natal Sem Fome no município, iniciativa que arrecadou cestas básicas para as famílias carentes do município.  Marquinhos apoiou Teta como candidato a prefeito e durante todo o governo deste, esteve presente como assessor, acompanhando cada passo do prefeito, atuando como mestre de cerimônias nos eventos do município, telefonando para o Boca Quente divulgando os feitos do prefeito, prestando conta das ações do executivo. No entanto, com a desistência do prefeito Teta à reeleição, o apoio foi transferido para Bodin, que ironicamente, é o melhor discípulo e herdeiro político de Souza Bandeira, sucessor do grupo político que há meio século controla o poder em Cachoeira dos Índios. Como era de se esperar, Marquinhos Campos é mais uma voz silenciada nessa cidade.

 

Zuzu

Está no segundo mandato de vereador em Cachoeira dos Índios. Seu feito político mais relevante, no entanto, foi sua candidatura a prefeito em 2008. Sozinho, Zuzu revolucionou o município, a bordo do seu Fiat Uno, convocando as pessoas a abraçarem a sua proposta de mudança. Na época, tinha apenas uma candidata a vereadora, que sequer conseguiu atingir o percentual de votos para se eleger. Zuzu elaborou um programa de governo, colocando as suas propostas, o que forçou o outro candidato a prefeito na época a fazer o mesmo. Quatro anos depois, Zuzu decepciona ao se deixar render pelo sistema e se candidatar a vereador a serviço do grupo político dominante, inclusive com o privilégio de vir a ser o presidente da câmara, o que causou muitas divergências internas. A Câmara de Vereadores de Cachoeira dos Índios não tem autonomia alguma. É apenas um acessório da prefeitura municipal. Suas funções são servir de lotação para vereadores e funcionários e legitimar as atitudes arbitrárias do prefeito. Desse modo, concluímos que o vereador Zuzu é uma só mais uma voz silenciada pelo sistema.

 

Wanderley Marques

Foi como dissemos aqui no blog, foi o melhor vereador da história de Cachoeira dos Índios. Seus mandatos foram marcados pelo tom da denúncia e da defesa dos interesses dos cidadãos. A TV do Povo e o Informativo O Guarani foram marcas registradas da sua legislatura. Um bom exemplo do seu espírito combativo foi a votação da taxa de iluminação pública. Sempre que os vereadores ameaçavam aprovar o repasse dessa taxa para a população, Wanderley se dirigia à rádio convocando todos a se concentrar em frente a câmara para barrar a votação. Foi preciso que lhe concedessem a presidência da câmara por dois mandatos, para que Wanderley fechasse os olhos e seus colegas aprovassem a famigerada taxa. Esse privilégio foi concedido logo ao único vereador de oposição na cidade. Muito estranho não é?  Wandeley volta a surpreender nesse mandado quando se alia a Bodin, tornando-se o secretário de comunicação da prefeitura. Cargo que ele desempenha com muito esmero utilizando O Guarani que antes era um veículo de oposição, como porta voz dos feitos do prefeito. O tom exageradamente elogioso com que ele trata o atual “dono do poder” contrasta severamente como o combatente de outrora, sugerindo que ele passou por uma espécie de metamorfose.

 

Allan Seixas

Por intermédio do pai, o ex-vereador Dedé Francisco, torna-se um dos empresários mais promissores da cidade. Nunca teve aspirações de concorrer a cargos públicos na cidade. No entanto, só foi chamado a ser candidato a vice por que ia apoiar a candidata da oposição, juntamente com o empresário Chico Mendes, que distribui confecções para os vendedores do Pará. Além disso, com a desistência de Teta, a família Francisco ainda ficaria representada. Durante a campanha, inclusive nas visitas às residências, Allan esteve ao lado de Bodin fazendo inúmeras promessas aos eleitores. Uma delas foi a implantação de um polo de confecções em parceria com o empresário Chico Mendes, para geram empregos. O que se sabe é que após eleito, não se viu mais o vice de Bodin em Cachoeira dos Índios. Simplesmente ele está no Pará vendendo confecções. Aprendeu rápido as artes da política cachoeirense: “prometer como como sem falta e faltar como sem dúvida”.   

 

Guia da Farmácia

Só queria disputar uma cadeira na Câmara de Vereadores. A indecisão do prefeito Teta e a intransigência da primeira dama Quinha levaram-na a concorrer a Prefeitura.  Sentindo-se ameaçado, o prefeito decide “mexer os pauzinhos” na capital, substituindo o representante do PMDB na cidade, Carlão Moreira por Eliana Candido para impedir a candidatura de Guia. Vale salientar que Teta interfere de forma arbitrária no partido alheio, uma atitude, no mínimo desprezível.  Esse certamente não foi o único obstáculo colocado à manutenção da candidatura de Guia. Tentativas de suborno foram feitas para motivá-la a desistir do pleito. No entanto, a candidata demonstrou coragem e maturidade resistindo bravamente a possíveis vantagens oferecidas, saindo fortalecida das urnas. A candidatura de Guia foi o principal motivo da desistência do prefeito Teta, que como é do conhecimento de todos, não tem o menor carisma como político. Será que Bodin vai conseguir trazê-la também para o seu esquema? Aguardemos...